data-filename="retriever" style="width: 100%;">Os profissionais de saúde que atuam no cuidado aos pacientes internados pela Covid 19 estão enfrentando as consequências emocionais e psicológicas da pandemia. Além de um cenário de trabalho exaustivo, conhecem de perto a dor dos pacientes e familiares nessa luta pela vida. Por vezes, se defrontam com a falta de insumos, tais como: oxigênio, medicamentos básicos para intubação e, com o aumento de casos, até a falta de leitos. Diariamente ouvimos seus apelos para que mantenhamos o uso da máscara, álcool gel, distanciamento e isolamento social. Já contabilizamos quase 400 mil mortos no país, sendo que, dentre as vítimas, estão muitos Enfermeiros e Médicos, os quais se infectaram no exercício de seu trabalho. Torcemos para que a vacinação avance mas, até o momento, atingimos em torno de apenas 6% da população brasileira com as doses completas. A equipe de saúde tem feito o máximo esforço para atender a população de forma humanizada, indo muito além dos procedimentos técnicos. Muitas vezes, é quem segura na mão do paciente e traz palavras de conforto nas ocasiões mais difíceis. Fica então o questionamento: quem cuida de quem cuida?
Seria ótimo dizer que a população, responsavelmente segue as orientações, respeita o trabalho da saúde e colabora no que for possível. Entretanto, infelizmente temos assistido, a nível nacional, a uma onda de políticos se achando no papel de donos da lei, invadindo os ambientes hospitalares com palavras de ordem, intimidando aqueles que, mesmo cansados, cumprem, honrosamente, o seu dever de cuidar. Cito aqui algumas notícias, veiculadas em diferentes locais:
"Em Guarulhos, parlamentares invadiram o Hospital Geral, provocando aglomeração em meio à pandemia de Covid-19, dizendo estarem fazendo uma fiscalização surpresa";
"Deputados invadem o hospital de campanha do Anhembi/SP, provocando bate boca e empurra-empurra com seguranças e muita confusão. Aos gritos com celulares em punho para filmar mostraram equipamentos e pacientes"
"Grupo provocou tumulto e confusão em um hospital do Rio de Janeiro. Contrariando as normas de boa convivência e respeito para com doentes em tratamento, eles invadiram alas restritas a médicos, enfermeiros e pacientes, gritando, desferindo chutes nas portas e derrubando computadores".
Essa moda descabida pousou por aqui também. Recentemente, um grupo de políticos adentrou a UPA com posturas nada educadas, filmando e, inclusive, divulgando imagens na internet, o que já demonstra a mais pura falta de ética.
Até onde sei, são eleitos para serem agentes políticos, com a função primordial de representar os interesses do povo perante o poder público. A população quer o pessoal da saúde trabalhando ou ouvindo ameaças em seu horário de trabalho? O que vimos foram posturas inadequadas e nada respeitosas com quem tem se dedicado para zelar da nossa saúde.
Considero que, na atual conjuntura, poderiam estar lutando no sentido de melhorar as condições de trabalho para que os profissionais tenham paz, respeito e dignidade no seu labor. Penetrar espaços reservados aos doentes infectados, que já estão passando por circunstâncias suficientemente difíceis no enfrentamento à pandemia e constranger os profissionais da saúde, certamente não são atitudes cabíveis.
Minha total solidariedade aos enfermeiros, médicos, equipe diretiva e demais membros dos serviços de saúde que fazem milagres em meio a desordem do Brasil em controlar essa pandemia.
O título "Quem cuida de quem cuida" foi inspirado no livro com este título, organizado pelas enfermeiras doutoras Regina Gema Santini Costenaro e Maria Ribeiro Lacerda.
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